terça-feira, 6 de novembro de 2007

Viver é sentir o vento
batendo no peito nu
numa noite fresca depois de chuva forte.

Viver é sentir o pianar
das gotas de chuva
que dedilham percussão de som seco
em noite molhada de verão que se antecipa.

Viver é tentar entender a nossa pequeneza
frente à imensidão de cada estrela-pontinho-no-céu,
[mesmo que agora as nuvens tomem conta do mundo acima de nossas cabeças]

Olhar pra fora e sentir aqui dentro é viver.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Acredito em átomos?

Naqueles serezinhos redondos e simpáticos, quase bonachões,
que cismam em orbitar por aí?


Acredito em árvores. E no vento - no minuano, ainda mais!

Dar crédito é construir - é compor e viver dentro de sua composição,
seja ela harmônica ou não.


Acredito em Manoel, que de Barros tira poesia.
aprendi a nadar nelas, nestas,
e é um santo remédio!

Santa poesia, acredito em algo mais?

Ao gosto dos Anjos, vomitei sangue coalhado
quando afirmaram que o Homem é bom.
Sim, claro... a sociedade que o corrompe. Mas que é a sociedade?

Por isso acredito que o Universo está em sua fase de contração. Tudo se aglutina. Contrariando as mais novas aceitações astronômicas, quero que seja ao contrário: nada de expansão, o Universo se contrai. Pq assim, rezo ao meu jeito pela comunhão. Cósmica. Se o Universo se contrai, tudo cada vez mais se aproxima, é como se tudo-todos fossem pra dentro da mesma ínfima gaveta (de volume tão ridiculamente pequeno que não se dá medida). É como se no final de tudo riscássemos do mapa as dimensões, apagássemos do dicionário o verbete "espaço" e o Tempo reinasse soberano.



[até que um sopro inicie o que, bilhões de anos mais tarde, será chamado de Big Bang...]

sábado, 3 de novembro de 2007

Do outro lado da rua tem uma flor.
Babilônia urbana.
Talvez, se eu atravessasse, poderia...

- Carros -

Do outro lado cinza da rua tem uma flor.
Violência urbana.
Cabanas de papelão povoam o asfalto duro e sujo.
Talvez, de cabeça em pé, poderia...

- Álcool -

Do outro lado cinza da rua escaldante tinha uma flor.
Carência urbana.
de dignidade, respeito, afeição.
Não mais nos afeta.

- Urbanos -

Pode até ser que, de um jeito ou de outro,
do outro lado – ali, bem perto! – do outro lado da rua,
eu realmente esteja vendo (e sentindo o cheiro)
de uma flor, pseudo-flor, caramujo-flor,
que lesmamente se arrasta cada vez mais
para longe de mim e da brutalidade urbana
que não cessa desabrochar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Tem gente que risca a nossa vida.

Tem gente que trisca, apenas, e se vai rodopiando:

ao longe vejo o balé triscado rodando e indo.


Pessoas que riscam, na verdade talham. Corte na pele d'alma.

[ muitas vezes essa ação não surge acompanhada de dor, e sim de prazer. ]

E o corte pode ser profundo ou superficial, e pode ser para o sempre.

Tudo pode. E, pra terminar com um chavão,

o que não pode é mais gostoso.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Apague da folha branca a palavra.

O que resta?

O borrão-palavra do lápis apagado é memória. Memória apenas pra quem escreveu e sabe. O borrão-palavra é prova do tempo pra quem chegou depois, é um "alguém esteve aqui antes", é prova de que não estamos sozinhos no mundo. Impressões de mundo apagadas geram curiosidade e atiçam o espírito investigativo do Homem. O que foi escrito aqui? Pq não posso ler?

A curiosidade matou o gato.