Espinhos. Frio. Urtiga. Desníveis. Picadas. Calor. Feridas. Andei por dias dentro da floresta espessa e escura, até que raios de sol fossem mais do que simples miragem [surgindo como espadas que cravam no solo e nas folhas verdes sua lâmina dourada e impiedosa].
Minha pupila se ajusta aos novos níveis de luz.
Agora, aqui, é latente a gama de verdes e formas e tudo com que a natureza me banha.
Sento e enfim respiro na clareira que me é dada.
[contemplar.]
[mais.]
Quando tudo parecia verde e marrom, obra-Natureza, um brilho me cega. Um portão imponente de barras verticais em cobre e colosso se impõe solene à minha frente, adornado em esquecimento mas incrustado de História intemporal, em um Tempo bergsoniano*. Sem nenhum vigia, sem presença humana detectável, sem cadeado na sua entrada. Basta vencer sua inércia e ultrapassar suas linhas.
Às vezes a verdadeira barreira a se vencer não está fora da gente, e sim dentro. Algo em mim não me deixava ir, ao mesmo tempo que uma força sutil [como um pequeno demônio ao pé da orelha] me crispava de ímpeto - cada vez mais - para transpor aquele limite-em-cobre. Simplesmente adentrar.
Minhas forças, escassas. Minha esperança era o que me sobrava de mais forte. Peguei-a e docemente a enrolei em um caule fino de uma margarida com um pedaço de raiz verde (arrancada por ali mesmo, naquele momento). Mal se via a flor escolhida, escondida que estava entre tufos de uma planta-parasita espinhenta.
Despido de minhas esperanças, entrando não sei porquê, simplesmente meu corpo rumava empurrado pelo sol.
Assim, os portões do Inferno ficaram para trás.
... e o encanto** (também verde) se enrosca, aguniado, no caule fino daquela margarida comum - tendo o sol, e apenas ele, como testemunha.
[texto livre inspirado na frase "Vós que aqui entrais, deixai la fora todas as esperanças - Dante." lida no blog Devaneios Desvairados, de Jéssica Amâncio. (brigado, Jé! :)
pra exclarecer: nunca li o livro (espero um dia, com calma, poder corrigir isso), simplesmente a frase me sugeriu essa passagem.
* Em Bergson, o presente coexiste com o passado e o futuro. Cabe à memória distinguir os eventos separadamente. O Tempo é uno.
** "A idéia do futuro, prenhe de uma infinidade de possíveis, é pois mais fecunda do que o próprio futuro, e é por isso que há mais encanto na esperança do que na posse, no sonho do que na realidade." Fonte: Ensaio sobre os dados imediatos da consciência", de Henri Bergson.
Minha pupila se ajusta aos novos níveis de luz.
Agora, aqui, é latente a gama de verdes e formas e tudo com que a natureza me banha.
Sento e enfim respiro na clareira que me é dada.
[contemplar.]
[mais.]
Quando tudo parecia verde e marrom, obra-Natureza, um brilho me cega. Um portão imponente de barras verticais em cobre e colosso se impõe solene à minha frente, adornado em esquecimento mas incrustado de História intemporal, em um Tempo bergsoniano*. Sem nenhum vigia, sem presença humana detectável, sem cadeado na sua entrada. Basta vencer sua inércia e ultrapassar suas linhas.
Às vezes a verdadeira barreira a se vencer não está fora da gente, e sim dentro. Algo em mim não me deixava ir, ao mesmo tempo que uma força sutil [como um pequeno demônio ao pé da orelha] me crispava de ímpeto - cada vez mais - para transpor aquele limite-em-cobre. Simplesmente adentrar.
Minhas forças, escassas. Minha esperança era o que me sobrava de mais forte. Peguei-a e docemente a enrolei em um caule fino de uma margarida com um pedaço de raiz verde (arrancada por ali mesmo, naquele momento). Mal se via a flor escolhida, escondida que estava entre tufos de uma planta-parasita espinhenta.
Despido de minhas esperanças, entrando não sei porquê, simplesmente meu corpo rumava empurrado pelo sol.
Assim, os portões do Inferno ficaram para trás.
... e o encanto** (também verde) se enrosca, aguniado, no caule fino daquela margarida comum - tendo o sol, e apenas ele, como testemunha.
[texto livre inspirado na frase "Vós que aqui entrais, deixai la fora todas as esperanças - Dante." lida no blog Devaneios Desvairados, de Jéssica Amâncio. (brigado, Jé! :)
pra exclarecer: nunca li o livro (espero um dia, com calma, poder corrigir isso), simplesmente a frase me sugeriu essa passagem.
* Em Bergson, o presente coexiste com o passado e o futuro. Cabe à memória distinguir os eventos separadamente. O Tempo é uno.
** "A idéia do futuro, prenhe de uma infinidade de possíveis, é pois mais fecunda do que o próprio futuro, e é por isso que há mais encanto na esperança do que na posse, no sonho do que na realidade." Fonte: Ensaio sobre os dados imediatos da consciência", de Henri Bergson.
2 comentários:
AH que lindo. amei. a forma como você conseguiu sair do Inferno. e como tinha tentações as suas orelhas! e o Sol, o sol!
brilhante.^^
fico muuuuito feliz por meu blog o ter inspirado!!!=]
pois saiu uma coisa linda dessa inspiração
:)
beijoss.
parabééns pelo texto.a-d-o-r-e-i!
Eu também andei por dias dentro da floresta espessa e escura, a procurar pelo meu caminho, não pelos desníveis, mas pelos inúmeros capilares que rodeiam meu coração.
Meus raios de sol foram diferentes. Vieram de dois olhos-de-esmeralda, e, como num prisma, espalharam todo aquele brilho verde sobre o meu meio metro de altura.
Minha inércia quebrou-se assim. Não por um ímpeto interior, mas por um motivo em carne viva de que se apaixonar é inevitável.
Amo muito você.
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