sexta-feira, 9 de março de 2007

(.)

a agulha e o breu

Peter sentou-se e esperava. A luz se recolhia pra quase não iluminar nem um, nem outro, neste quarto-em-madeira. Sons secos estalavam do assoalho vez por outra em contraponto ao ritmo preciso e compassado da agulha que guiada por mão feminina, seguia seu ritual. A menina, instrumento em punho, espalhava seu longo vestido azul pela cama e costurava feliz. o negro no negro. Num quarto em semi-breu, como se costura de forma concisa o negro no negro?

Peter olhava e singelo, sorria. Bem, se é q conseguia enxergar alguma coisa… mas não era preciso ver, afinal o ritual começara ainda regado pelos sons do lusco-fusco e as cigarras, lá de fora, benziam com seus gritos serrilhados o ato paciente de cozer sombra com sombra, ali dentro daquela casa.


Era quase dia e o trabalho estava pronto. A sombra de Peter era a sombra de Wendy q era a sombra de Peter. Por toda a noite, foi o amor quem guiou as mãos cegas da menina do vestido azul. O breu que, naquela madrugada, embebia a cera derretida da vela ao lado da cama, terminou de costurar as sombras de ambos em uma unicidade ímpar, qdo Peter por instantes deixou de ser criança e Wendy já não mais a menina do vasto vestido de seda azul.






3 comentários:

Anônimo disse...

Ooooohh!
^^
Wendy e Peter!
Crianças pra sempre serão!
Sombras costuradas pra voarem juntas!
Sempre!

Presente melhor não há!
Obrigada por tudo!
Amo-te!

Anônimo disse...

Tá na hora de postar coisas novas, não acha?!
:p

omnia in uno disse...

Tecendo sombras, o obscuro sobre o obscuro: claro fica. Nem criança nem adulto - nem isto, nem aquilo, Omnia in Uno. Nada é estanque. O vento corre pra nunca chegar e uiva a largos vazios do frio que é o luaR também.
Os alquimistas semeam sinais de cor e tato para o bom observador!