s. título (2006) 10x15 cm.
Há mais espaço entre os espinhos negros de um ouriço
do que na selva de pedra em que resido.
Resisto. Podre.
A luz do sol se prega ao parapeito por duas horas, a cada dia nesta época do ano.
como consegue fugir das sombras vorazes, ainda não sei.
mas foge. Dribla.
E todo dia invade o quarto.
Tentáculo Solar.
[ Qual é o teor de ameaça que o som do Sol, avançando, nos traz? ]
Entra de lado, sem pedir licença.
É como se a régua de luz e calor se dilatassse devagar. zinho.
E todo dia ela te raspa. raspa de mim um fio de sua existência. Deixo. Afinal, o processo se repete aqui dentro. Você, do lado da minha cama, cama espaçosa num quarto-cubículo que engole chá de imensidão toda vez que deito e não te sinto. Na mesinha de cabeceira você sorri pra mim, escrita por luz, 10x15 sorrindo. Mas todo dia o sol conquista território adentro. Avança. Mais. Do parapeito, mergulha em brasa no chão-poeira do quarto. Avança. Escala a mesinha de cabeceira e no cume o porta-retratos espera, impávido colosso: pequeno e fino em volume, imenso universo abstrato de recordações embutidas. Mas a certeza de vitória que acomete o braço de sol – passo a passo se aproxima lentamente – faz com que ele não tenha pressa. Não é preciso engolir o tempo, então apenas se delicia com a sua passagem e se estica estica até o ponto final, pra começar daí o regresso diário. O sol no meu quarto é amostra grátis, singular e lerda de um movimento em Adagio das ondas do mar, que pincelam a areia pra cima e depois de volta pra baixo. Uma única-horas vez por dia.
E assim, a cada crua rodada do relógio em que o sol te drena,
a foto sua desbota em cor;
sua presença desbota em vida.
do que na selva de pedra em que resido.
Resisto. Podre.
A luz do sol se prega ao parapeito por duas horas, a cada dia nesta época do ano.
como consegue fugir das sombras vorazes, ainda não sei.
mas foge. Dribla.
E todo dia invade o quarto.
Tentáculo Solar.
[ Qual é o teor de ameaça que o som do Sol, avançando, nos traz? ]
Entra de lado, sem pedir licença.
É como se a régua de luz e calor se dilatassse devagar. zinho.
E todo dia ela te raspa. raspa de mim um fio de sua existência. Deixo. Afinal, o processo se repete aqui dentro. Você, do lado da minha cama, cama espaçosa num quarto-cubículo que engole chá de imensidão toda vez que deito e não te sinto. Na mesinha de cabeceira você sorri pra mim, escrita por luz, 10x15 sorrindo. Mas todo dia o sol conquista território adentro. Avança. Mais. Do parapeito, mergulha em brasa no chão-poeira do quarto. Avança. Escala a mesinha de cabeceira e no cume o porta-retratos espera, impávido colosso: pequeno e fino em volume, imenso universo abstrato de recordações embutidas. Mas a certeza de vitória que acomete o braço de sol – passo a passo se aproxima lentamente – faz com que ele não tenha pressa. Não é preciso engolir o tempo, então apenas se delicia com a sua passagem e se estica estica até o ponto final, pra começar daí o regresso diário. O sol no meu quarto é amostra grátis, singular e lerda de um movimento em Adagio das ondas do mar, que pincelam a areia pra cima e depois de volta pra baixo. Uma única-horas vez por dia.
E assim, a cada crua rodada do relógio em que o sol te drena,
a foto sua desbota em cor;
sua presença desbota em vida.
2 comentários:
Interessantes as imagens (tentáculos solares invadindo o quarto)
O que comentar além das imagens brotando da imaginação, provocadas por palavras precisas e lindamente arranjadas, traduzindo um momento da vida de um ser que num cubículo se vê atacado por sentimentos, recordações e ausências – palavras intensas, imagens intensas.
Seu texto não é só um texto descritivo que recria cenas e transmite sensações, ele dá sentimentos às coisas e é nesse sentimento que a gente se identifica uma vez que em nossas vidas as coisas nos transportam à sentimentos.
Muito Bom!
Fernanda
o que me dá mais prazer ao ler esse fragmento aqui é o modo como estão coladas duas grafias da luz, operando com o tempo-espaço próprios a elas - uma estática, presa nos seus 10x15, falando de uma possibilidade ( ou impossibilidade) de parar o tempo, outra em movimento ininterrupto trazendo sem cessar o próximo instante, ainda que em Adagio. Não sei quem está imóvel ou quem tem movimento - o sorriso dela ou o braço dele. Circular e repetitivo - o desenho que a luz desenha sobre o desenho de luz... Um auto-retrato!
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